A Comissão Executiva da TAP conseguiu nos últimos anos melhorar o desempenho da empresa e definir uma orientação de médio-prazo, o que deve ser reconhecido.
Contudo, a situação actual afigura-se muito preocupante por diversos motivos.
Do ponto de vista conjuntural a empresa
- está numa situação de falência técnica, com capitais próprios negativos de -285,5 milhões de Euros;
- não poderá ser financiada pelo Estado pois as regras comunitárias de concorrência impedem novas injecções de capital, o que será um motivo de sossego para os contribuintes mas não sei se é um factor de responsabilização para um entendimento entre os representantes sindicais e os gestores da empresa;
- terá mais dificuldades em obter financiamento para sobreviver, pois uma participação no capital por outras companhias de aviação não é fácil, dada a crise que atravessam, e a contratação de empréstimos sem poder contar com o aval do Estado, que está impedido de o fazer, conduz a taxas de juro elevadas;
- atravessa uma recessão do mercado do transporte aéreo, havendo a possibilidade de quando for ultrapassada esta primeira fase de redução da procura surgir o problema do aumento do custo do combustível.
- a crescente afirmação e concorrência das companhias low-cost, com estruturas de custo muito inferiores, que pressionam fortes reduções de preços nas ligações europeias;
- a incapacidade manifesta da empresa e dos representantes dos trabalhadores em encontrarem uma plataforma que permita uma paz social duradoura visando, senão o desenvolvimento, pelo menos a sobrevivência da empresa;
- a dificuldade da companhia em aumentar a sua produtividade para níveis semelhantes ao das suas congéneres.
Neste panorama sombrio, seria importante saber se existe ou não um projecto claro para a sobrevivência da empresa, com objectivos de médio-prazo e explicitação dos meios necessários para serem atingidos.
Pela minha parte, muito me custaria que, sob o pretexto da manutenção dos postos de trabalho, a TAP seja mantida com injecções regulares de capitais públicos, se não houver um compromisso de todas as partes para que esta atinja no curto prazo níveis de eficiência e competitividade semelhantes aos das suas concorrentes, de tal forma que possa sobreviver num mercado aberto como é o europeu.
4 comentários:
Estou ansioso que a TAP seja privatizada para deixar de ter 10 milhões de administradores.
Não sabe do que fala e a TAP não tem injecção de dinheiros públicos desde 2001.
Não sabe mesmo do que fala e é cruel a sua "leveza" em dispensar quem fôr preciso para poder salvar a TAP.
Há empresas de serviço de público que dão e darão prejuízo. A CP, a CARRIS...as pessoas precisam de transportar-se.
Espero que não tenha ninguém da sua família dentro da TAP. É que, na sua opinião, deveria ir para a rua ou então a empresa fechar por falta de liquidez.
Parabéns pela sua insensibilidade.
Miguel Matos
Tripulante de Cabine da TAP Portugal.
Apesar de perceber a ansiedade do sr. Miguel Matos, penso que o que é dito é totalmente verdade, por muito que muitos não o queiram aceitar.
Poder comparar a TAP com a Carris, CP, Metro e tantos outros, já não é possível. Essas empresas existem para servir sobre concorrência controlada, enquanto a TAP neste momento se move em total concorrência directa, leal ou desleal. Realmente o que o Sr.Eng. Fernando Pinto fez, foi transformar uma TAP devoradora de recursos do estado numa empresa de aviação sustentável e credível a nivel internacional. O ponto fulcral e que neste momento é tocado aos sete ventos, é gerido por uma meia dúzia de sindicatos que eleitoralmente decidiram escolher as próximas greves e logo para 4 dias. Para quem não saiba, essas greves vêm, para além das eleições, de um ressentimento das greves no verão do ano passado, onde muitos dos seus associados, pura e simplesmente desligou-se dessa greve. Infelizmente, na realidade representam, provavelmente, mais de 50% dos trabalhadores da TAP, felizmente menos de 50% costuma participar nas greves. Por outro lado, sem querer ser sectarista, porque muito respeito todos os que lá trabalham, estes sindicatos representam a grande maioria dos trabalhadores que se podem englobar nas classes mais baixas, enquanto que outros, como por exemplo Pilotos, Assistentes de Bordo, Engenheiros, Técnicos de Manutenção, representam a verdadeira Produtividade da empresa. Desculpem se me alonguei muito, mas também não quero ferir sensibilidades de ninguém.
Caro Miguel Matos,
Antes de mais obrigado pela sua participação.
Sei que a TAP não tem apoio financeiro do Estado desde 2001, e por isso entendo que a situação da empresa é preocupante pois não é fácil neste momento obter fundos próprios que permitam ultrapassar o problema da falência técnica.
Não pretendi por isso sugerir neste post que alguém pode ou deve ser dispensado, mas apenas expor a minha opinião de que considero essencial existir um entendimento comum (Gestores e representantes do trabalhadores) sobre uma estratégia clara de médio-prazo que evite entrar numa fase da qual pode depois muito difícil sair.
Não tenho vontade nenhuma que a empresa encerre, bem pelo contrário! O que tenho é receio de que ainda não exista um plano consensualizado (accionista Estado, Gestão e Trabalhadores) que permita recuperar a empresa da situação crítica em que encontra.
É também certo que, como contribuinte, tenho também algum receio de soluções conjunturais de injecções permanentes de capital do Estado se não existir um projecto concreto para transformar a TAP numa empresa competitiva e por sobreviver.
Por último, desejo os maiores sucessos a toda a empresa, o que não significa fazer de conta que não existem actualmente problemas graves para ultrapassar.
João Marrana
Caro Black Adder,
Obrigado pelo seu contributo.
Concordo com muitas das coisas que refere, como seja na diferença entre transporte público urbano, que não é ainda um mercado liberalizado, e o transporte aéreo que, quer queiramos quer não, está totalmente liberalizado no território da União Europeia, com implicações relevantes em matéria de financiamento público.
Permito-me porém ir mais longe num ponto: existem na TAP, como em quase todas as empresas, diversos sindicatos, que defendem interesses específicos dos seus associados e que podem nem sempre ter suficientemente presentes as questões do conjunto da empresa.
A minha dúvida é, por isso, se não faria sentido existirem sindicatos transversais a toda a empresa, e não verticais como actualmente, pois numa situação como a presente, qualquer um dos sindicatos pode forçar à sua inactividade temporária com uma greve, mesmo que seja por questões que não têm directamente a ver com a empresa.
Talvez este possa ser um tema de reflexão, não apenas para a TAP mas visto de forma global.
João Marrana
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