Esta manhã, quando subia a VCI da Arrábida para as Antas, tive uma experiência nova para mim: um grupo de poucas dezenas de automóveis bloqueou a circulação, como forma de protesto ou para dar visibilidade à luta sindical dos enfermeiros. Tanto quanto me apercebi, não se tratou de nenhuma manifestação autorizada.
Quanto à eventual injustiça de que a classe profissional dos enfermeiros possa estar a ser vítima não me pronuncio, porque não conheço o assunto com o detalhe necessário para formar uma opinião fundada. Admito por isso que existam justificações suficientes para as greves que têm efectuado.
O que me parece a mim motivo de preocupação particular é o facto de se utilizar o bloqueamento das vias de comunicação como método de pressão social, ou, numa linguagem mais típica da esquerda tradicional, como forma de luta.
A questão central é a seguinte: será lícito bloquear a rede de transportes como método de defesa dos interesses de uma classe profissional específica?
A minha opinião é de que isso não é de facto razoável, essencialmente por duas razões:
- Porque o que acontece nestas situações é uma transferência de custos relevantes para cidadãos que nada têm a ver com o problema em causa. Admitindo que a manifestação referida correspondeu a um bloqueamento da VCI por 1/2 hora, isso representa que o conjunto dos utilizadores da via nesse período terão suportado um custo da ordem dos 125 000 €, considerando um fluxo horário de 6000 veículos/sentido, que cada veículo transporta 1,5 pessoas e que o valor do tempo para as pessoas afectadas é de 7€. É certo que não é nenhuma verba astronómica, mas é igualmente certo que quem suportou esse encargo não terá nenhuma obrigação de o assumir.
- Para além do problema da legitimidade, referido no parágrafo anterior, colocam-se igualmente as questões do princípio e do precedente: se considerasse aceitável os enfermeiros bloquearem a VCI, teria que aceitar igualmente que os funcionários públicos o possam também vir a fazer, ou os pilotos da TAP, ou os trabalhadores de uma indústria que encerrou, ou os clientes do BPP, ou qualquer outra situação de defesa de direitos que os manifestantes considerem particularmente relevantes.
2 comentários:
há algum anos, quando os cortes de estradas estavam na berra, houve um governo que criminalizou esse tipo de acões. Julgo que foi quando Guterres era PM
100% de acordo. Ontem (de mota!!), demorei 20 minutos para a atravessar o Parque das Nações devido ao protesto (com camiões em marcha lenta) do pessoal das feiras populares/circos/etc. Com a agravante de às 0:30 ainda estarem a buzinar perto de minha casa!
Qual é a legitimidade de fazerem outros cidadãos perder qualidade de vida (perda essa que se pode sempre transformar em €€)? Neste caso com a agravante de muitos dos manifestantes não conhecerem a lei contra a qual se manifestam (tal como se percebe pelas entrevistas que dão à comunicação social)!
Infelizmente parece que as autoridades não têm "autoridade", pois limitavam-se a dar prioridade aos protestantes (também protesto ilegal e "espontâneo), em vez de dar prioridade aos milhares de pessoas que ao fim de um dia de trabalho apenas querem voltar para casa.
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