quinta-feira, 25 de junho de 2009

Um País com Pneus

A propósito da recente discussão sobre os programados investimentos em infra-estruturas, resolvi revisitar as estatísticas comunitárias sobre as redes ferroviária e de auto-estradas, com o objectivo de avaliar a posição relativa do nosso país relativamente aos restantes Estados membros da União Europeia.

Os valores encontrados (1) para os indicadores que designei por densidade (quociente entre a extensão da rede e a área territorial) e por intensidade (quociente entre a extensão da rede e a população residente) destas infra-estruturas são interessantes:
  • Relativamente às auto-estradas, Portugal, no ando de 2006, assumia o valor mais alto da UE em termos densidade (27,7 km de AE/1000 km2, correspondente a 189% da média da UE) e o maior valor na perspectiva da intensidade (239,7 km / milhão de habitantes, correspondente a 189% da média da UE);
  • No tocante à rede ferroviária electrificada, o nosso país, em 2007, colocava-se no 18º lugar em termos de densidade (15,6 km / 1000 km2, correspondente a 62% da média da UE) e em 17º lugar quanto à intensidade (135,1 km / milhão de habitantes, correspondente a 61% da média da UE).
Este desequilíbrio de desenvolvimento das redes rodoviária e ferroviária, quando comparadas com os nossos parceiros da União Europeia, é manifestamente o resultado de sucessivas políticas de transportes em que se privilegiaram as estradas, orientação que terá as suas origens no Estado Novo, ou mesmo anteriormente.

Não tendo neste momento dados disponíveis sobre o investimento conjunto das Estradas de Portugal, ou suas antecessoras, e das concessionárias de auto-estradas, face ao investimento da REFER, anteriormente CP, estou convicto que o investimento feito por esta última é muito inferior ao realizado pelas primeiras.

A dúvida que me assiste é se o momento presente não torna pertinente a necessidade de inflectir esta situação, de modo a reduzir o impacto ambiental da mobilidade e do transporte de mercadorias, já que estes continuam ambos a crescer mas as metas de emissão de gases com efeito de estufa estão fixados.

Como sempre, os comentários são sempre bem-vindos.

(1) - os valores foram calculados com base nos dados constantes dos quadros 1.1, 3.5.1 e 3.5.3 de "EU Energy and Transport in Figures - Statistical Pocketbook 2009", publicado pela DG Energy and Transport da Comissão Europeia

1 comentário:

miguel disse...

Julgo que nenhuma das medidas é a mais adequada para uma avaliação da "quantidade" de auto-estradas.

Um exemplo muito simples: os países A e B têm a mesma população e área. O A tem uma densidade populacional homogénea, e o B tem um único centro populacional sendo o resto deserto. Não faz sentido comparar km/pop ou km/área nestes dois países.

Outras medidas que põe Portugal em situações ainda mais vergonhosas:

http://menos1carro.blogs.sapo.pt/102191.html
procurar a maior cidade SEM auto-estrada, ficamos em 2º



http://menos1carro.blogs.sapo.pt/124265.html
percentagem da rede viária que é AE: dobro da média europeia


http://menos1carro.blogs.sapo.pt/76381.html
km de AE por km de ferrovia