Terminou o período de sondagem sobre qual deverá ser a 1ª linha de TGV a executar.
Os resultados são interessantes e permito-me fazer as seguintes análises ou especulações:
- Só uma resposta aponta para a ligação impossível, Sagres-Ponta Delgada, o que poderá significar que levaram a sondagem a sério e acham que se deve começar o TGV por algum lado, o que, por sua vez, implicará que entendem que o processo deve ser iniciado;
- A hipótese mais votada foi a ligação Porto-Lisboa, opção da minha preferência pois entendo que é onde existe já procura, onde a linha existente está saturada e onde parece demonstrado que as intervenções incrementais de beneficiação não resolvem os problemas de capacidade e velocidade nem tempo útil nem com orçamento aceitável;
- curiosamente a ligação Lisboa-Madrid e Porto-Vigo têm igual número de preferências (8) e apenas 1 a menos que linha do Norte. Admito que se trate da expressão de diferentes mercados: ao Porto interessa a ligação a Vigo, para alargamento da sua área de influência, enquanto a Lisboa interessa a ligação a Madrid, mas, para o Porto, esta ligação não é atractiva (usando uma expressão regional, é um pouco "ir a Paredes por Coura");
- Em qualquer importa registar que as preferências demonstradas vão maioritariamente (16 em 28) para as ligações a Espanha e não para o ordenamento da rede nacional;
- também curioso o facto de que a ligação por Aveiro apenas registou 2 defensores.
5 comentários:
Eu votei Lisboa-Madrid pensando no que seria melhor para o país. Desde um ponto de vista pessoal, ou local, preferia Faro-Sevilha. Sem ter conhecimento de dados sobre o assunto, conto que há duas semanas preparei a viagem Ciudad Real (CR) - Faro (Portimão) em transportes públicos. De CR a Sevilha (300km) com AVE, menos de 1h40m. 9 ligações diárias, quase todas esgotadas. Em Sevilha, ante a inexistência de ligação ferroviária com o Algarve (só até Huelva) decidi usar autocarro (250km) em 4-5h. Companhias Eurolines, Eva, Alsa e Damas todas com viagens completas. Solução? Autocarro Sevilha-Ayamonte (140km) em 2h40, seguido de Ferry, mais comboio da CP até Faro (60km) ou Portimão (120km) num total de duração entre 2h45 e 4h15, conforme o comboio. Ao chegar a Ayamonte, ao ter que esperar 1h pelo ferry, os que nos tínhamos aventurado por esta opção desistimos dos transpores públicos para chegar ao destino. Recordo que a viagem tinha começado com 300km numa 1h40. O desespero aumentou proporcionalmente ao cheiro a sardinha assada...
Nao tenho dados disponíveis, mas a minha percepção é que o Algarve está na moda em Espanha, e que pela Europa, sao muitos os turistas que procuram visitar o sul da península numa só vez, e que desistem face às péssimas ligações (excepto por automóvel) da Andaluzia com o Algarve. Será que pelo menos ligar Huelva a Faro com velocidade média, não seria algo lógico? Os 200km entre Faro e Sevilha feitos â velocidade do trajecto CR-Sevilha, não permitiria atrair um número enorme de turistas ao Algarve, com as consequências económicas que isso teria para o país? Como ninguém fala no assunto(zero votos), imagino que devo estar um pouco distante da realidade...
Caro João,
Cá volto eu ao mesmo debate sobre o caminho-de-ferro. Se tivesse oprtunidade, teria votado na ligação Lisboa-Porto.
A este propósito, aprofundo um pouco mais a análise que já tinha efectuado ontem. Daquilo que fui lendo sobre as questões de economia de transportes ressalta, a meu ver, uma mais importante do que outras. As perdas de tempo nos transportes não são todas valorizadas da mesma maneira pelos utentes. Os utentes valorizam mais os tempos mortos e de espera do que, propriamente, os tempos que se encontram dentro dos meios de transportes. Isto é, passando tudo a unidades monetárias, os utentes estão disponíveis a pagar mais por cada unidade de tempo de espera do que por cada unidade de tempo dentro do próprio meios de transporte. Por isso, tão ao mais importante do que a redução dos tempos de percurso são o aumento da frequência e da melhoria intermodalidade dos diferentes meios de transporte.
Como li pouco sobre questões de intermodalidade e de integração tarifária, fico-me pelas questões da frequência. Voltando à nova linha ferroviária Lisboa-Porto, ela é muito importante para se aumentar essa frequência. Melhorava a frequência dos comboios de maior velocidade e daqueles que têm um carácter mais suburbano e pendular. Enfim, a meu ver uma nova linha ao diminuir os tempos de deslocação e aumentar a frequência potenciava, sem dúvida, o recurso ao transporte ferroviário por parte dos utentes. Gostava de saber a tua opinião sobre isto.
Depois, se advogo uma maior utilização da ferrovia é porque, implicitamente, sou favorável à redução do uso do transporte rodoviário, sobretudo, do transporte individual. Para mim, a alternativa às actuais ligações rodoviárias Porto-Lisboa não é uma nova auto-estrada mas, sim, a nova ligação ferroviária que advogo. Só tenho uma dúvida. O traçado do IP3 no troço Coimbra-Viseu (que conheço melhor) não oferece muitas condições de segurança. Agora, rectificando-se esse IP, a alternativa, para quem quiser fazer essa ligação por auto-estrada, não é uma nova auto-estrada mas, sim, o recurso à A1 e A25. É mais longo e mais caro o percurso mas, tendo o IP3, a opção é dos consumidores. Aliás, considero que o sistema de portagens nas auto-estradas existentes entre Lisboa-Porto não potencia, suficientemente, o recurso à ferrovia. Ainda continua a compensar fazer esse percurso de transporte individual se o número de passageiros for à volta de, pelo menos, 3-4 pessoas. Com essa nova linha ferroviária seria de equacionar, dentro de aquilo que os contratos de concessão permitem, o aumento dessas portagens. Que me dizes?
Não falo de transportes de mercadorias porque não tenho muitos dados sobre isso. Para todos os efeitos, ainda voltarei, quando puder, à carga com outras questões sobre a ferrovia e a importância de, a meu ver, se desincentivar o uso do transporte individual.
Um abraço.
Rui
Caro Jorge Tiago,
A minha sensação sobre a ligação Faro-Huelva é que uma nova ligação seria certamente útil,mas dificilmente teria um rácio benefícios sociais vs custos sociais sequer próximo da unidade, pois a procura é relativamente baixa.
Ou seja, parece-me muito provável que o investimento não seja rentável, incluindo os benefícios sociais, e entendo que dificilmente se pode considerar como um investimento prioritário.
Dou um exemplo análogo que é claramente mais prioritário do que esse, a ligação Braga-Viana-Tui-Vigo, pois o tráfego nessa fronteira é muito superior e necessita de uma intervenção tendente a tornar a ligação ferroviária concorrencial com o caminho-de-ferro.
Em todo o caso, seria bom que existisse a ligação e tivesse um serviço ferroviário eficaz, mas é provável que o tráfego não justifique o investimento ou, pelo menos, não a coloque como investimento prioritário
Caro Rui Monteiro,
São muitas questões... mas todas oportunas e relevantes.
Quanto à valorização que os clientes fazem do tempo de espera, confirmo que lhe atribuem um custo superior ao do tempo de viagem. No transporte público urbano é frequente considerar um valor que é grosso modo o dobro do tempo de viagem.
A tua questão talvez mereça um post sobre o custo generalizado para discutirmos este tema com ias profundidade.
Em todo o caso obviamente que o aumento do numero de ligações é um parâmetro muito influente na procura da linha.
O problema da ligação Porto-Lisboa é que a via está saturada em alguns troços, com destaque para o Aveiro-Porto, e, por isso, para colocar mais "Alfas" tem que se reduzir no serviço suburbano... que tem exibido as maiores taxas de crescimento nos últimos anos. Ou seja, para cobrir melhor a cabeça destapam-se os pés. Portanto, para aumentar a frequencia dos suburbanos e das ligações rápidas, ambas necessárias, será necessária uma nova linha!
Quanto à intermodalidade, parece-me relevante ter presente que neste momento o comboio rebate no Porto e em Lisboa sobre a rede de metro (Campanhã, S.Bento e Oriente, Sta. Apolónia), o que aumenta muito a competitividade da ligação ferroviária. Seria provavelmente interessante era fazer a integração da tarifa do transporte público urbano na ligação, ou seja, o bilhete de comboio integrar o bilhete de TPub no destino, para facilitar a vida ao cliente e tornar a viagem de TPub mais atractiva.
Quanto às portagens, é politicamente difícil aumentar pois os utilizadores acham sempre que já pagam muito e os nosso sistema político é muito sensível aos protestos.
Poder-se-ia pensar numa abordagem um pouco diferente: dada a necessidade de reduzir as emissões de carbono e, por isso, a utilização do transporte individual, em particular na ligação Porto-Lisboa, porque não aplicar uma taxa aos utilizadores da AE Porto-Lisboa para co-financiar o desenvolvimento da rede ferroviária? Uma ordem de grandeza: pelas minhas contas deve haver cerca de 4 Milhões de veículos a fazer anualmente a ligação do Porto a Lisboa na A1, em cada sentido.
Um abraço
João
Gotava de saber o traçado do TGV no algarve ,pois acho que vai passar por cima da minha casa,não consigo encontrar um traçado onde tenha as cordenadas do mesmo,e acho lamentavel se o fizerem aqui no Algarve
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